quinta-feira, 26 de julho de 2018

Meu Orgulho Próprio

Meu nome é Gabriel Andrade, tenho 31 anos e tenho orgulho de mim mesmo. Não sou orgulhoso nem do tipo que fica se gabando de nada mas estou escrevendo esse texto pra me lembrar que tenho muito do que ficar orgulhoso de mim mesmo.
Nasci numa família pobre com pais praticamente adolescentes. Morava na parte de cima da casa da minha avó materna, cresci ouvindo-a dizer "Faça o que te dizem e coma o que te dão." e acredito que ela falava por amor. Eu sentia amor na convivência com ela. 
Talvez isso tenha moldado minha humildade e aceitação em não ter nenhum tipo de luxo. Sempre fui simples, sabia que não podia nem era justo ganhar ou pedir o que eu queria, eu já tinha entendido que deveria aceitar tudo que tinha e qualquer coisa a mais que eu quisesse eu teria que batalhar pra conseguir com meu próprio esforço.
Quando pequeno gostava de estudar, tinha muita curiosidade então prestava a atenção na aula e tinha prazer em aprender. Nunca foi esforço pra mim aprender algo novo. Mas não escondo que me sentia feliz em saber que era bom aluno. Por mais que escutasse que deveria estudar para conseguir um bom futuro o estudo em si nunca foi um fardo, tão pouco um objetivo.
Sem esperer isso me rendeu frutos e tive a inscrição para prova da Faetec paga pela diretora da escola municipal que eu estudava. Me assustou isso um pouco. Um cara que nunca esperou nada de ninguém ganhar algo que colocava um peso nas costas ao mesmo tempo. Me esforcei e passei pra técnico de informática. Foi uma alegria e um misto de medo com ansiedade. Pela primeira vez iria pegar um ônibus pra ir pra escola, em outro bairro com pessoas totalmente desconhecidas. 
Fui, conheci pessoas maravilhosas, fiz teatro amador, estudei por prazer e procurava palestras técnicas para assistir no centro da cidade. Mas lembro que uma vez, numa das inúmeras conversas com amigos da turma no intervalo, falei que um dia iria trabalhar na IBM, uma das maiores empresas do ramo de computadores, e recebi a gargalhada de todos. Meu amigo Leandro falou: "Tá maluco cara, para de sonhar."
Naquele momento me dei conta que tudo até aquele momento eu tinha feito pelo incentivo contrário de pessoas próximas a mim. Já tinha escutado de meu próprio pai que não serviria pra nada por ser preguiçoso. Ali esse combustível ficou consciente em mim.
Esse mesmo amigo me falou do processo seletivo para estagiários da IBM em botafogo. Todos que estavam no dia que duvidaram de mim foram pra esse processo. Só eu e outro amigo passamos para uma dinâmica em grupo e depois somente eu fui chamado pra uma entrevista. 
No terceiro ano do ensino médio entrei como estagiário da IBM, com o estágio melhor remunerado da escola, motorista particular e telefone nextel ( em 2004 não era comum adolescentes com celular). Fiquei sabendo depois que eu fui o estagiário mais novo da empresa com 17 anos e o primeiro a receber um prêmio de reconhecimento pelos clientes.
Mas veja bem, nunca almejei isso. Dei meu melhor, mas não esperava receber, talvez fosse um mecanismo próprio contra frustrações. De qualquer forma as palavras da minha avó materna estavam sempre na minha cabeça, aceitei e recebi tudo que me deram e continuei batalhando pra melhorar.
Depois que acabou o estágio tive muita dificuldade pra encontrar um emprego, ninguém acreditava que um garoto de 18 com cara de 13 teria algo a oferecer pra uma empresa. Sempre passava por testes em todas as entrevistas mesmo outros candidatos não passando pelo mesmo. Trabalhei numa loja de informática num shopping enquanto procurava um emprego melhor. Finalmente consegui um emprego sem carteira assinada na GRDJ Informática criadora do F-Rest software para restaurantes.
Saí de casa, com ajuda dos meus avós paternos aluguei uma quitinete e recebia ajuda da minha primeira namorada também. Ela me ensinou muita coisa de como manter uma casa rs. Isso foi uma outra conquista inconsciente, eu de todos os meus amigos era o único morando sozinho, muitos dos nossos encontros de turma eram na minha casa.

Continua na próxima postagem...